O couro, material nobre e usado pelo homem desde a pré-história, é a pele do animal transformada em um material estável, através da ação de produtos curtentes. Esse processo de transformação acontece dentro do curtume, em diferentes etapas e operações, mas é a operação de CURTIMENTO que é, de fato, responsável por transformar a pele em couro. Os produtos aptos a se fixarem sobre a pele e provocarem o curtimento são numerosos e de natureza muito diferentes, mas basicamente se dividem em dois grupos: produtos minerais e taninos vegetais.
O curtimento mineral é feito usando normalmente sais de cromo, aplicados industrialmente a partir de 1900. O curtimento ao cromo suplantou rapidamente os outros métodos de fabricação (em particular o curtimento vegetal), detendo hoje quase 90% da fabricação mundial de couro. A vantagem principal desse procedimento consiste na rapidez da sua execução.
Já o curtimento vegetal é feito usando os taninos, muito comuns na natureza, podendo ser encontrados em diversas partes de vegetais (cascas, madeiras, folhas, frutos e raízes). Os mais utilizados pela indústria curtumeira são os taninos de quebracho (Schinopsis lorentzii), mimosa (Acacia meamsii), castanheiro (Castanea sativa), mirabolano (Terminalia chebula) e tara (Caesalpinia spinosa). Apesar da variação do poder curtente e dos preços, alguns tipos são mais comuns em algumas regiões e outros nem são explorados comercialmente. No Brasil existe apenas a produção do tanino de acácia, sendo os taninos de quebracho e castanheiro produzidos somente no exterior e em escalas menores.
As cores que o curtimento ao tanino emprestam ao couro (desde que posteriormente o couro não seja submetido ao tingimento ) vão desde o tom rústico/natural até um tom rústico avermelhado, dependendo do tipo de tanino empregado.
O couro curtido ao tanino pode ser chamado de couro atanado ou também couro vegetal
O couro curtido ao vegetal continua associado à tradição e ao artesanato, e ainda hoje relativamente poucos curtumes têm a capacidade de produzir couro curtido ao vegetal. O tempo e a habilidade envolvidos em sua produção o tornam um material caro, reduzindo sua demanda. É um couro grosso e pouco maleável, sendo ideal para produtos como bolsas resistentes, cintos, selas e solas.
É possível obter-se couros curtidos ao vegetal e posteriormente recurtidos com óleos naturais sulfitados e taninos sintéticos, trazendo características como maciez, menor espessura e boa resistência físico-mecânico. Desta forma pode-se obter uma grande variedade de artigos de couro, como couros automotivos, couros para estofamentos, para vestimenta, bolsas e cabedal para calçados.
“Com o passar do tempo, o couro atanado sofre um sofisticado processo de envelhecimento natural. Também chamado de vaqueta, sola ou soleta tanino, é o principal tipo de couro usado em projetos artesanais, feitos à mão. ” (MSul Couros)
Com a crescente discussão em torno da preservação do meio ambiente, a indústria busca aplicar tecnologias limpas em seus processos. No setor coureiro, que já foi considerado um dos mais poluidores, não é diferente. Atualmente, existem normas que guiam as práticas sustentáveis para a produção de couros; os processos são constantemente revistos, os sistemas de tratamento de afluentes duramente fiscalizadas e a quantidade de cromo usado no processo de curtimento mineral vem sendo gradativamente diminuída.
Mesmo assim, existe um movimento grande incentivando a substituição do cromo por curtentes alternativos, e por isso a indústria curtumeira tem se voltado novamente aos curtimentos com taninos vegetais, menos poluentes, com resíduos degradáveis que servem para uso em compostagens na produção de adubos.
As grandes marcas de moda têm apresentado em suas coleções produtos produzidos nesse material, e marcas novas e autorais estão nascendo produzindo peças de couro totalmente chrome-free. Além disso, um retorno ao interesse em produtos feitos artesanalmente, valorizando sempre mais o fazer manual, trouxe ao mercado novas marcas de selaria, artesanato clássico em couro e produtos masculinos.
O curtimento vegetal é um processo artesanal tradicional que tem sido passado pelos curtumes de pai para filho há mais de 200 anos, usando receitas antigas e tecnologia de ponta. Os produtos feitos com esse couro também valorizam a sua história e tradição.